Os carros corriam em alta velocidade pela estrada municipal da cidade de São Paulo. Atenção, os suspeitos seguem correndo para a BR 35, solicito várias viaturas! No carro da frente dois jovens maduros e inseguros dirigindo um Citroen prata com placa de Nova Andradina. Atrás uma viatura policial não muito moderna, mas bem conservada pelos anos. Os PMs João da Silva e José Santos já estavam investigando a quadrilha há oito meses e somente agora conseguiram encontrar uma brecha para pegá-los em flagrantes.
Os
jovens estavam desesperados, pois conforme pisavam no acelerador a polícia se
aproximava rapidamente. O som alto que até então consolava os infratores já não
era capaz de penetrar em seus ouvidos e o tanque cheio já se tornara apenas
mais um carro de cidadão comum. Mano, jamais pensei que seria preso na grande
São Paulo, trabalho para o Carlão já faz mais de sete anos, eu era até menor
quando comecei nessa vida, mas agora está tudo perdido. E o carro voava na
pista pouco movimentada.
-
É hoje que eu pego esses manés! – Rosnava o policial João tragando os últimos
resíduos do Derby que restava em sua boca.
A
quadrilha trabalhava próximo ao mercadão municipal e muitas vezes os produtos
eram embalados no próprio galpão do estabelecimento. A polícia só desconfiou do
crime ao receber uma ligação anônima feita de um orelhão público, o que não
impediu que os jovens continuassem se arriscando a contrabandear a mercadoria
pela grande cidade.
Um
negro forte de óculos vermelhos gritava: - Vamos, negada! O Carlão falou que metade
das onças devem ser transportadas para a zona norte e o que sobrou dos pássaros
para a zona leste!
Dentro
da viatura os policiais se deliciavam com a armadilha que fizeram para os
criminosos. Os carros ainda corriam na pista, só que os meninos resolveram se
arriscar na perseguição. Joga no meio desses caminhões de cana! O jovem
motorista pensava, suava, guiava. Não perde tempo, caralho! Não é tão simples
assim fugir de policiais experientes e velhos de guerra. João e José eram
braços direitos dos generais no período da ditadura, eram o que chamamos hoje
de macacos velhos, por isso foram escolhidos para as operações especiais e hoje
era o dia de fazer valer.
-
Cara, isso não vai dar certo! – chorava o pobre jovem motorista ao passar para
a contramão da imensa rodovia.
Os
policiais só observavam de longe o belo carro colidir com outro caminhão que em
alta velocidade apareceu na pista. Otários! Jovens são sempre aventureiros,
porém são os que menos sobrevivem na lei do trânsito.
-
Anda, vê o que tem no bagageiro! – Disse João.
-
Você tá louco? Temos que ver se ainda é possível tirá-los com vida das ferragens
do carro! – Desesperou José perante as grandes poças de sangue esparramadas no
interior e exterior do veículo.
Entretanto
sua preocupação foi desaparecendo quando o parceiro retirou do bagageiro uma
mala com mais de cinquenta mil reais e trinta quilos de cocaína. Trataram de
ligar urgentemente para a central e anunciar a apreensão do dinheiro e da droga. Enquanto guardavam as provas do crime na
viatura, os cidadãos preocupados tentavam socorrer os jovens que agonizavam de
dor dentro do carro. Não queria morrer assim! E naquela tarde de sábado os grandes policiais ganharam o reconhecimento da mídia e das redes sociais por
lutarem bravamente contra o tráfico de drogas.
Na tarde deste sábado,
08 de março de 2014, a Polícia Militar apreende vinte mil reais e dez quilos de
cocaína em carro de traficantes na grande São Paulo, os fugitivos colidiram com
um caminhão e morreram durante a perseguição. Segundo os policiais João da
Silva e José Santos, a quadrilha da qual eles faziam parte já estava sendo
investigada durante um bom tempo por levar drogas do Mato Grosso para várias
cidades do interior de São Paulo, inclusive para a capital, mas nesse início de
semana a rota dos traficantes foi interceptada pela força tática policial.
Jornal da cidade, 08 de
março de 2014
JUCINEI ROCHA DOS
SANTOS, 04 DE DEZEMBRO DE 2014.