- E ai cara, como está?
- As coisas andam muito difícil velho, nada volta a ser como
era antes.
- Eu imagino...
- Pois é...
- Mas o Marcão não ficou de conseguir um trampo pra você?
- Ele conversou com o gerente lá.
- E ai, o que virou?
- Quando ele viu meu currículo até ficou animado, pois eu
tenho bastante experiência com empacotamento, mas...
- Então deu certo?
- Não.
- Como assim?
- Ele fez algumas perguntinhas básicas e pediu outros documentos.
- E...
- Quando ele viu tudo pediu para eu aguardar que se
precisasse ele me ligaria.
- Hum... É osso.
- Eu sei. E cá entre nós, todos nós sabemos que ele não quer
um cara como eu na empresa dele, né?
- Pior que é verdade.
- E como estão seus filhos?
- Nem quero tocar nesse assunto. Acredita que nenhum quer me
ver?
- Mas tente entender o lado deles. Não é fácil pra eles
também, perderam tudo que consideravam importante.
- É...
- E além do mais, você tem sorte de nenhum deles querer te
matar...
- Verdade.
- Então, está morando onde?
- Com minha mãe. Ela está aposentada e pediu pra eu ficar cuidando
dela por algum tempo até eu conseguir um emprego.
- O Pedro me disse que você tinha começado a trabalhar com o Jorge
Lucas.
- Tinha sim, mas acredita que ele é primo da minha
mulher?
- Sério?
- E como...
- Nossa! Então, nem é bom trabalhar com membro da família, muito menos primo da esposa.
- Eu também não levo jeito para servente de pedreiro.
- Pois é...
- Sabe de uma coisa Fred?
- Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente.
- Por quê?
- Acredito que eu tive muitas oportunidades para mudar minha
vida, mas não aproveitei nenhuma.
- hum...
- Enquanto minha esposa batalhava para cuidar da casa e
cuidar das crianças, eu ficava mexendo com aquelas paradas. Velho, como eu fui
um imbecil!
- Já ficou no passado, velho.
- Não ficou não, as consequências duram até hoje.
- E o que você pode fazer para mudar essa história?
- Só me resta recomeçar. Ver onde eu errei e fazer tudo
diferente, quem sabe dessa vez eu não consiga ao menos chegar em algum lugar, já
que o passado eu nunca poderei apagar.
- Pois é...
- Fred.
- Hum...
- Vou nessa, a gente se tromba por ai.
- Falou cara, fica na paz.
- você também...
15 anos atrás.
“Homem mata mulher em
cidade do interior de São Paulo. José da Silva, de 30 anos assassinou na noite
de ontem sua esposa, Maria Pereira da Silva, de 27 anos. A polícia busca
investigar a causa do homicídio, mas a perícia diz que ele chegou drogado e embriagado em casa e discutiu com a mulher, inclusive alguns vizinhos ouviram os gritos. Maria deixa quatro filhos, amigos e parentes. O corpo
será velado no velório municipal PC Farias, no centro da cidade. José foi encaminhado
para a cadeia municipal onde ele espera sua sentença.”
(Jornal da Cidade – 24 de Junho de 1996)
Jucinei Rocha dos Santos, Monte Azul Paulista, 03 de Junho de 2013.
"O córrego é o
mesmo,
Mesma , aquela árvore,
A casa, o jardim.
Meus passos a esmo
(Os passos e o espírito)
Vão pelo passado,
Aí tão devastado,
Recolhendo triste
Tudo quanto existe
Ainda ali de mim
— Mim daqueles tempos!"
(Manuel Bandeira)
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