sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A ÉGUA APAIXONADA

- Joaquim, venha cá!
- Oh painho, o que deseja?
- Menino, tu percebestes que aquela égua branca anda rodeando nosso terreiro de novo?
- Impressão tua, painho. Impressão tua...
- Olha só!
- Olhar o quê?
- Ela está parada em frente à porteira, até parece menino moço a procura de namorada.
- Impressão sua, meu velho. Ela deve estar comendo um pouco do capim que tá ali perto.
- Espero que seja, pois ultimamente essas éguas andam muito estranhas.
- Deve ser por causa do tempo, painho. Essa seca aqui no norte está de matar.
- É verdade, mas não foi pior do que a de cinquenta.
- Por quê?
- Naquele tempo muitas famílias tiveram que mudar daqui pra outras regiões.
- Hum...
- O gado morreu tudo e quase que nós também morremos.
- Óxente mãinha!
- É, meu filho. Nossa sorte foi essa plantação de palma que fica em frente ao pé emburana. Ela nos alimentou durante muito tempo.
- E pensar que muitos reclamam de hoje, né, meu velho?
- Pois é...
(Ouve-se um barulho no quintal)
- Que barulho foi esse, José?
- Sei não, painho. Vamos lá ver!
- Ah, não acredito. Essa égua vagabunda quebrou a cerca de novo.
- Ela tá muito estranha, não é?
- E como meu filho, é a quinta vez que ela quebra essa cerca nesse mês. O que será que ela tá procurando aqui em casa?
- Sei não, pai.
- Vocês não andaram alimentando ela com o estoque da despensa não, né?
- Claro que não, painho!
- Hum... Sinto que tem algo muito errado por aqui e vou descobrir!
- Pode deixar que eu te ajudo, meu velho!
- Muito bem. Primeiro vamos consertar essa cerca, senão todo o gado do José Barranco vem pra cá.
- Tá certo, pai. Eu acho que são esses gados que estão fazendo mal para as éguinhas.
- Pode até ser, mas meu filho, vá até o João de Dona Maria buscar martelo e pregos pra gente arrumar a danada da cerca.
- Tudo bem, painho, mas a casa dela fica muito longe.
- Então pega o cavalo e vá lá, e logo!
- Painho?
- Hum...
- Pode te pedir uma coisa?
- Fala, Joaquim!
- Me deixa ir com a éguinha, ela é mais ligeira...


“Aumentam casos de Zoofilia na região nordeste. Pesquisas realizadas pela Universidade São Francisco de Assis revelam que 1 em cada 100 habitantes da zona rural já tiveram ou têm relações sexuais com seus animais, as principais vítimas são éguas, vacas e porcas. A polícia anda preocupada com as denúncias anônimas, já que uma boa parte dos animais demonstraram comportamentos inadequados. O Delegado Armando Pinto, da cidade de Quixeramobim/Ce, diz que a pena para o autor dessas atrocidades será de três meses a um ano de prisão ou multa, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98)."

                                                                 (Jornal da Cidade – 22 de Janeiro de 2013)

                          Jucinei Rocha dos Santos, Monte Azul Paulista, 26 de Outubro de 2013.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

AÇÕES E CONSEQUÊNCIAS

- E ai cara, como está?
- As coisas andam muito difícil velho, nada volta a ser como era antes.
- Eu imagino...
- Pois é...
- Mas o Marcão não ficou de conseguir um trampo pra você?
- Ele conversou com o gerente lá.
- E ai, o que virou?
- Quando ele viu meu currículo até ficou animado, pois eu tenho bastante experiência com empacotamento, mas...
- Então deu certo?
- Não.
- Como assim?
- Ele fez algumas perguntinhas básicas e pediu outros documentos.
- E...
- Quando ele viu tudo pediu para eu aguardar que se precisasse ele me ligaria.
- Hum... É osso.
- Eu sei. E cá entre nós, todos nós sabemos que ele não quer um cara como eu na empresa dele, né?
- Pior que é verdade.
- E como estão seus filhos?
- Nem quero tocar nesse assunto. Acredita que nenhum quer me ver?
- Mas tente entender o lado deles. Não é fácil pra eles também, perderam tudo que consideravam importante.
- É...
- E além do mais, você tem sorte de nenhum deles querer te matar...
- Verdade.
- Então, está morando onde?
- Com minha mãe. Ela está aposentada e pediu pra eu ficar cuidando dela por algum tempo até eu conseguir um emprego.
- O Pedro me disse que você tinha começado a trabalhar com o Jorge Lucas.
- Tinha sim, mas acredita que ele é primo da minha mulher?
- Sério?
- E como...
- Nossa! Então, nem é bom trabalhar com membro da família, muito menos primo da esposa.
- Eu também não levo jeito para servente de pedreiro.
- Pois é...
- Sabe de uma coisa Fred?
- Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente.
- Por quê?
- Acredito que eu tive muitas oportunidades para mudar minha vida, mas não aproveitei nenhuma.
- hum...
- Enquanto minha esposa batalhava para cuidar da casa e cuidar das crianças, eu ficava mexendo com aquelas paradas. Velho, como eu fui um imbecil!
- Já ficou no passado, velho.
- Não ficou não, as consequências duram até hoje.
- E o que você pode fazer para mudar essa história?
- Só me resta recomeçar. Ver onde eu errei e fazer tudo diferente, quem sabe dessa vez eu não consiga ao menos chegar em algum lugar, já que o passado eu nunca poderei apagar.
- Pois é...
- Fred.
- Hum...
- Vou nessa, a gente se tromba por ai.
- Falou cara, fica na paz.
- você também...


15 anos atrás.

“Homem mata mulher em cidade do interior de São Paulo. José da Silva, de 30 anos assassinou na noite de ontem sua esposa, Maria Pereira da Silva, de 27 anos. A polícia busca investigar a causa do homicídio, mas a perícia diz que ele chegou drogado e embriagado em casa e discutiu com a mulher, inclusive alguns vizinhos ouviram os gritos. Maria deixa quatro filhos, amigos e parentes. O corpo será velado no velório municipal PC Farias, no centro da cidade. José foi encaminhado para a cadeia municipal onde ele espera sua sentença.”

                                                                   (Jornal da Cidade – 24 de Junho de 1996)



"O córrego é o mesmo,
Mesma , aquela árvore,
A casa, o jardim.
Meus passos a esmo
(Os passos e o espírito)
Vão pelo passado,
Aí tão devastado,
Recolhendo triste
Tudo quanto existe
Ainda ali de mim
— Mim daqueles tempos!"


(Manuel Bandeira)


             Jucinei Rocha dos Santos, Monte Azul Paulista, 03 de Junho de 2013.

MEUS PRIMEIROS ENCONTROS COM A LITERATURA


          Sempre fui uma criança que amava esportes e brincadeiras de rua. Durante minha infância nunca tive interesse em leitura ou escrita, porém, meus gostos por literatura foram mudando a partir do momento em que comecei a cursar a terceira série do ensino fundamental.

          Tudo começou com uma professora chamada Sueli. Ela tinha o costume de contar histórias da bíblia a cada sexta feira (Além de ler livros de literatura), fazendo com que todas as crianças parassem o que estavam fazendo para ouvi-la. Nesse período, eu era um aluno com muita dificuldade de aprendizagem, não conseguia ler nem escrever direito, tanto que sempre era convocado para as recuperações de julho e dezembro, além de dormir na sala de aula e ficar só desenhando enquanto a professora passava matéria, mas quando era a hora da história, viajava como poucos naquele universo oferecido pela literatura. Foi então que fiz um questionamento. De onde vinham tantas histórias maravilhosas como aquelas? E como a “Tia Sueli” sabia de tudo aquilo? Com o tempo pude observar que ela sempre estava com um livro nas mãos, sempre nos mostrava as imagens, e às vezes, lia o livro. Então todas essas histórias estão lá dentro? Agora entendi o segredo dela! Foi nesse exato momento que a minha vida mudou para sempre.

          Virei um leitor assíduo naquele ano? Não. Comecei a escrever bem? Também não. Porém, comecei a frequentar bibliotecas. Olhava os desenhos de cada livro, tentando desvendar cada história ali presente, sem se importar com aquelas palavras escritas (Afinal, não gostava de ler e escrever ainda). Assim, fui crescendo, crescendo, crescendo... E aos poucos venci meus medos e dificuldades (Já tinha dezoito anos, mas venci). Minha paixão por livros duram até hoje, tanto que me considero um bibliófilo. Atualmente, dou aula de português, leitura e produção de texto para o ensino fundamental, e sempre utilizo a estratégia, que aprendi com minha querida professora, para atrair os jovens à leitura. Será que estou conseguindo? Ainda não sei, mas dentre todos os meus alunos, a maioria ainda me chamam para fazer visitas à biblioteca ou contar aquelas histórias que fazem, por um instante, eles saírem desse pequeno “mundo” chamado terra. Agora, escrever? Hum! É outra longa história... Que eu prefiro resumir com um pequeno texto: “Eu amo escrever poesias, amo escrever narrativas, amo escrever, desde a minha adolescência registro os momentos mais importantes de minha vida em folhas (hoje amareladas), não só para ficar de recordação ou para chorar nos momentos de saudades (apesar de ser saudosista), mas porque me dá prazer, me inspira, e acima de tudo, me faz refletir e perceber como evolui. Hoje eu sou uma nova criatura”.

          Tudo começou com uma professora chamada Sueli. Ela tinha o costume de contar histórias da bíblia a cada sexta feira (Além de ler livros de literatura), fazendo com que todas as crianças parassem o que estavam fazendo para ouvi-la. Nesse período, eu era um aluno com muita dificuldade de aprendizagem, não conseguia ler nem escrever direito, tanto que sempre era convocado para as recuperações de julho e dezembro, além de dormir na sala de aula e ficar só desenhando enquanto a professora passava matéria, mas quando era a hora da história, viajava como poucos naquele universo oferecido pela literatura. Foi então que fiz um questionamento. De onde vinham tantas histórias maravilhosas como aquelas? E como a “Tia Sueli” sabia de tudo aquilo? Com o tempo pude observar que ela sempre estava com um livro nas mãos, sempre nos mostrava as imagens, e às vezes, lia o livro. Então todas essas histórias estão lá dentro? Agora entendi o segredo dela! Foi nesse exato momento que a minha vida mudou para sempre.

          Virei um leitor assíduo naquele ano? Não. Comecei a escrever bem? Também não. Porém, comecei a frequentar bibliotecas. Olhava os desenhos de cada livro, tentando desvendar cada história ali presente, sem se importar com aquelas palavras escritas (Afinal, não gostava de ler e escrever ainda). Assim, fui crescendo, crescendo, crescendo... E aos poucos venci meus medos e dificuldades (Já tinha dezoito anos, mas venci). Minha paixão por livros duram até hoje, tanto que me considero um bibliófilo. Atualmente, dou aula de português, leitura e produção de texto para o ensino fundamental, e sempre utilizo a estratégia, que aprendi com minha querida professora, para atrair os jovens à leitura. Será que estou conseguindo? Ainda não sei, mas dentre todos os meus alunos, a maioria ainda me chamam para fazer visitas à biblioteca ou contar aquelas histórias que fazem, por um instante, eles saírem desse pequeno “mundo” chamado terra. Agora, escrever? Hum! É outra longa história... Que eu prefiro resumir com um pequeno texto: “Eu amo escrever poesias, amo escrever narrativas, amo escrever, desde a minha adolescência registro os momentos mais importantes de minha vida em folhas (hoje amareladas), não só para ficar de recordação ou para chorar nos momentos de saudades (apesar de ser saudosista), mas porque me dá prazer, me inspira, e acima de tudo, me faz refletir e perceber como evolui. Hoje eu sou uma nova criatura”.


                                                                   Jucinei Rocha dos Santos, 31 de Maio de 2013