Às seis horas da tarde o telefone toca.
- Alô!
- Boa tarde, João.
- Boa tarde, mas quem é que está falando?
- É o seu primo José, aqui do interior de São Paulo.
- Ah, José! Tudo bem contigo?
- Sim, João, comigo está tudo ótimo graças a Deus, e você
como está?
- Aqui tá bom também, a colheita não está aquelas coisas,
mas dá pra passar o ano.
- Hum! Legal.
- Então, por que você me ligou essa hora da tarde?
- Bom, João... Sabe o que é?
- Desembucha!
- É que seu pai está muito doente, os médicos já perderam
as esperanças, até mandou ele de volta pra casa pra passar os últimos dias com
a família e ele quer te ver rapaz.
- Ele está tão grave assim?
- Sim. O câncer já se alastrou por todo o seu corpo, ele
nem consegue andar, até necessita de cadeira de rodas.
-...
-...
- José?
- Pode falar, João!
- Eu não irei vê-lo não.
- Mas como assim? Eu acabei de te dizer que ele está nos
últimos dias de vida!
- Eu sei!
- Cara, ele falou que era uma das últimas vontades que
ele tinha antes de morrer!
- Eu sei João, eu sei...
- Então, por que você não quer ver seu pai?
- José, sabe quantos anos faz que não o vejo?
- Não, não tenho a mínima ideia.
- Faz mais de vinte anos.
- Olha só, e você não tem saudades dele?
- José, não tem dia que eu não penso nele e na minha
finada mãe.
- Então João, vem pra cá logo, antes que seja tarde
demais!
- Não irei não, José! Sabe por quê?
- Não, me diga!
- Sabe como meu pai era antes de eu partir pra São Paulo?
- Não.
- Ele era forte. Sozinho conseguiu sustentar toda nossa
família. Nós éramos dez irmãos, o mais velho tinha quinze anos. Com raça,
esforço e força ele conseguiu trabalhar em dois lugares durante quinze anos para
que a gente tivesse a vida que temos hoje.
- Nossa! Ele era muito forte mesmo, sempre ouvia minha
mãe dizer.
- Pois é.
- Mas, ainda não entendo por que você não quer vir, já
que ele fez tudo por vocês.
- Quando eu era Jovem, eu vi meu pai forte, jogando
futebol nos campeonatos aqui do nordeste.
- Sei.
- Ele levantava mais de cem quilos de feijão para jogar
nos caminhões, conseguia atravessar correntezas só na braçada.
- Hum...
- Ele pagou todo o meu casamento, além de ajudar a
construir minha casa. Todos os anos mandava presente para meus filhos.
-...
- Ele sempre foi um exemplo pra mim de determinação,
força e coragem.
-...
- Já o vi brigando com ladrões que invadiram nossa casa e
acredite, ele fez mais de quatro homens encapuzados correrem.
- Nossa!
- José, as lembranças que tenho do meu pai são ótimas. Em
todas ele é um homem saudável, forte, cheio de vida e saúde.
- Sim...
- E é dessa maneira que quero tê-lo na minha memória, por
isso não irei ai visitá-lo.
O telefone é desligado e as lágrimas correm ao redor do
rosto. Na rádio é tocada mais uma moda de viola.
“Viemos
nesta manhã de sexta-feira, dia 15 de novembro de 2012, comunicar o falecimento
do ex-funcionário público, o senhor Sebastião da Silva, ele tinha câncer no
pulmão e os médicos já o haviam mandado de volta para sua casa, pois as
possibilidades de cura era praticamente zero. Ele era viúvo e deixa dez filhos
e quinze netos, além de irmãos e primos...”.
(Jornal da cidade, 15 de novembro de 2012)
Jucinei Rocha dos Santos, 15 de Novembro de 2012.
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